Curadoria Maria Silvia Texto Bernardo Biagioni Fotos João Alkmim 7 a 30 de Agosto, 2019
Ocupar as paredes da cidade é um ato político. É uma reimaginação libertina de uma paisagem construída por princípios utilitaristas e desenvolvimentistas que desarticulam afetos cotidianos. Uma cidade sem arte é uma cidade em silêncio. Não fosse pelo graffiti, estaríamos vivendo em caixas cinzas cortadas por vias asfaltadas que escondem rios e caminhos.
Há de se exaltar, portanto, um personagem que reinventa este horizonte. Um tal Bolinho multicolorido que se acopla à paisagem da cidade trazendo ritmo e poesia para rotinas cansadas e sedentárias. Bolinhos super poderosos. Bolinhos praianos, Bolinhos bolados. Bolinhos felizes. Bolinhos políticos. Mil Bolinhos, ao seu dispôr, para contar a história de um tempo.
Este é um trabalho político, sensível, vandal e contínuo da artista mineira Maria Raquel. Uma letrista por formaqäo que, há dez anos, começou a espalhar estes personagens em Belo Horizonte como uma contaminação poética. Um convite a ver a cidade como uma paisagem de permanência, de presença, de afeto e de afeição. Todos nos jå vimos um Bolinho na rua. Não?
Dez anos sendo uma agente política na transformação do cotidiano. Se ocupar as paredes da cidade é um desafio social para todos – imagina para uma mulher, muitas vezes sozinha, encarar ruas e avenidas inflamadas por múltiplos conflitos urbanos.
Como importante e necessária celebração, esta exposição reúne a historia do Bolinho em fotografias, obras, produtos e registros que dimensionam o alcance deste personagem (leonino!) tão importante para a cidade e para o graffiti brasileiro.
